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Suicida - Teresa Drummond

Escrever cartas de amor é cuspir um
crônico catarro preso à garganta.
Todas as cartas de amor são ridículas...
retratam de quem as descrevem o próprio ridículo.
Escrevo cartas de amor
Como se pulasse do décimo andar.
A paixão ludibria a alma
dissipando as certezas e todo o senso ridículo
Se o poeta é fingidor,
escrevo cartas de amor lambuzando de dor cada palavra.
Não há medida para rimas de amor;
até as rimas de amor são ridículas.
Por isso não faço poesia:
deixo contido o amor no ridículo das cartas...
morreria engasgada se não me dessem a chance de ser suicida.
Pulo do décimo andar no afã do vôo longínquo!...
Entre a janela e o chão, desprovida de toda a razão,
hei de saber da resposta.
Como a árvore que não apressa sua seiva
e enfrenta tranqüila a tempestade,
paciente aguardo a brevidade do chão
como se diante de mim houvesse eternidade.
Não há lucidez que aprisione o amor!...
Rompendo as grades do lúdico cárcere,
Na estupidez do vôo insano, escrevo cartas de amor
sem pára-quedas.

postado por Curiosa

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